quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Kevin's Telescope

His hands hide inside a sleeve
And little feet play with the ground
beneath him
While up in the sky is where he wants to be

Time will fly
And the wind plays with him
The night will give him its charm

While he walks home
His head's up in a cloud
He feels his pores fill up with fresh air
And there's no doubt
That one day he will be
Where the eye of his telescope has already been

Night will pass
But he's a lot faster
No one can do him any harm


Eu fui visitar minha família na minha terra natal, Araguari, nesse último feriado, o tal dia dos presentes. Sabe, valeu a pena, o que contraria completamente minhas expectativas. Foi uma viagem muito elucidativa, me permitiu distinguir de forma muito clara todas as coisas que eu deixei pra trás quando eu saí de lá, e, sobretudo, quais foram os motivos. Eu sempre tive muitas dúvidas quanto a isso, mas durante esse tempo, um Danilo muito mais maduro conseguiu tirar um proveito espantoso dos muitos encontros que teve.

Nádia estava comigo. Digo, estava com ela mesma, acima de tudo, enfrentando seus próprios fantasmas, mas a gente foi junto, já que a família dela também é de lá. Ela me falou de como os meus amigos araguarinos são muito mais alegres que meus amgios de Belo Horizonte, mais vivos, e mais animados. Eu mesmo costumava ser muito assim até alguns poucos anos atrás, tendo minhas 'crises eólicas'. Mas ocorreu uma mudança, e ela foi sistemática. Eu estava claramente fugindo de algo, ou pelo menos foi essa a impressão que eu tive inicialmente. Por tempos eu acreditei que essa fuga se dava em relação ao senhor meu pai. Mas durante essa viagem eu descobri que não, que era outra coisa que estava em processo

Sair do interior para viver em uma capital grande como Belo Horizonte é um processo complicado. Você abandona um berço seguro para uma identidade cujos limites são muito bem circunscritos em troca de uma centena de incertezas angustiantes. Mas ao mesmo tempo liberta seu Ego para produzir algo de singular. Em Araguari eu era filho do Pedro, neto da Luzia, primo do Luciano, sobrinho do Juza, amigo do Fábio e mais um monte de pontos de referênciação que serviam tanto pra mim quanto para as outras pessoas determinarem quem eu era. E por isso essas mesmas identidades tornavam-se tão fortes e tão reacionárias. Em Belo Horizontes esses mesmos pontos são praticamente irrelevantes na maioria de suas relações. Você é mais um indivíduo do que um sujeito. A gente vive num jogo de gato e rato por aqui, toda hora tentando capturar uma fagulha da centelha daquilo que somos, esquecendo, quase sempre, que na verdade não somos nada além desse processo. Eu não tive um bom ano. Passei a maior parte desse ano completamente paralizado, incapaz de produzir qualquer coisa. Estava tentando me fechar em um casulo, eu acho, pois o que eu mais desejava era passar por uma metamorfose. Abandonar, enfim, minha adolescência, e começar a longa estrada rumo à velhice. Era como se eu estivesse temeroso de abandonar os muitos pontos de referênciação que a adolescencia oferece. Isso passa por um drama antigo que eu tenho, que é o abandono de alguns valores de minha infância, quando as coisas costumavam ser muito mais simples e bonitas.

Mas, então, eu descobri que era disso que eu estava fugindo quando saí de Araguari, das amarras da identidade. Uma identidade que, é claro, não me era suficiente. Mas tão logo eu cheguei a Belo Horizonte eu me deparei com a responsabilidade sartreana. E rejeitei tudo o que a cidade tinha a me oferecer nesse sentido. Por tempos conservei o uniforme de MST (metal sujo de terra), mas eventualmente me desfiz dele também. Eu fiquei sem chão, eu acho. E dava um monte de passos em falso. Porque tudo o que me aparecia daí em diante eram identidades adultas, e eu não achava que estava pronto para elas. Não sei se eu estou agora. Mas eu estou disposto a encará-las, pelo menos.

E, por isso, eu estou muito certo que 2010 vai ser muito, mas muito divertido mesmo.