quinta-feira, 24 de abril de 2008

Fake PLastic Trees

Essa é uma música bem triste, e fala de amor.

Pera, isso me assusta.

Porque o amor vem sempre ligado a esse taste de sofrimento e tristeza?
É um grande mistério, definitivamente. Mas, bem, não é disso que eu queria falar.

Tem sido dias estranhos, nessa cidade cheia de luzes azuis. E os demônios em vermelho me rodeiam, observando a distância. Tantas coisas na cabeça. Mas, talvez, tenha sido uma boa saída. E talvez eu comece a construir alguma coisa, at all.

Durante toda minha adolescencia acreditei que a vida se resumia em encontrar e viver uma linda história de amor que terminaria num felizes para sempre. Mas a trilha sonora sempre era triste, ainda que doce. Um dia eu tive um insight orientado por uma música, então deixei de buscar avidamente por amor, e passei a buscar pela vida.

Mas o que tenho achado mais estranho é que tenho me feito perguntas muito obssessivas. Tenho me sentido enganado, por viver uma grande mentira, que se chama classe média. Lidar com a pobreza diariamente sempre me leva a pensar que aquilo sim é a vida média das pessoas, não o que eu vivo. E é uma vida bem da desgraçada. Isso me machuca em vários aspectos. E me faz ficar irritado com meus próprios dramas e tristezas, que parecem tão pequenos diante dos problemas daqueles pacientes, loucos, pobres e sem oportunidades. E muitos são pessoas muito boas, que queriam, mais do que tudo, poder fazer a diferença em ambitos muito menos megalomaniacos que o meu. Eles não querem salvar o mundo, eles querem cuidar da mãe que vive acamada. Ou poder estudar, para ajudar as pessoas que tanto as tem ajudado diariamente ali no serviço, lhes oferecendo uma escuta sincera e acolhedora.

Eles, esses pacientes, tem me dado as poucas doses diárias de alegria que me permitem continuar. E eu sinto por não poder fazer mais do que escutá-los.

O mundo me parece cada dia mais mentiroso. E todo aquele papo acadêmico do que vem a ser o humano me enche. Porque parece que eles não dizem desse homem, real, médio, que vive nesse ambito de pobreza, que acordam todos os dias sem saberem se terão um prato de comida na mesa, para servir seus filhos. Essa história de estrutura psicótica & foraclusão do nome do pai me soa cada vez mais distante da realidade. Porque começo a acreditar que a loucura é uma situação, um mecanismo de poder e uma resposta a uma realidade de vida insuportável.

Eu me encantei com o amor de um paciente, esses dias, ao escutar seus desejos e ansias e vontades. Eram simples, mas sinceros, e o iluminavam com uma bondade diferenciada. E, diante dele, me segurei para não me render a prantos "pouco terapeuticos". Agora eu sei porque escuto tanto essa música enquanto escrevo isso. Trata-se de um retardo mental, moderado para grave. E essa música tocava em um comercial sobre sindrome de down.

Eu tenho aprendido muito com aquelas figuras, loucas, mas sábias. Pois poucos são os psicólogos que enfrentaram tantas dificuldades e barreiras nessa vida. A pobreza, o preconceito, a doença e a violência. Ainda assim eles erguem o rosto e continuam, apoiados em umas ou outras bengálas. E ainda assim são capazes de desejar o bem ao próximo, trazer em suas almas um desejo sincero de agradecer aqueles que lhe cedem a palavra, tão comumente segregada, desrespeitada, e não escutada.

Tem sido uma lição de vida, estar ao lado deles todos os dias.

Pois, ali, enfim, eu entendi o que é amor.

Nenhum comentário: