domingo, 3 de fevereiro de 2008

Souvenirs

"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas..."

Ah, essa frase. Hum, eu não sou muito chegado a frases feitas. Elas me incomodam. Bem, mas essa não pertence a liga de filósofos e pensadores que forjaram minha concepção de homem. Ela está num livro infantil, "O Pequeno Principe". Não, eu não acredito nisso. Não acho que nos tornamos responsáveis por reações reativas que causamos. O que me questiono aqui é o quão reativa é a capacidade de alguem cativar as pessoas? Não consigo acreditar que não exista certa intencionalidade nisso...

Bem, antes de continuar acho bom esclarecer algumas coisas. Eu já tentei manter um blog por muitas vezes. Eles nunca duraram mais do que cinco posts. Sim, esse é um número significativo. Acho que a única coisa que consegui tocar por um bom tempo foi meu fotolog. Mas ainda assim os posts se tornaram esporádicos, e as vezes passam-se semanas sem que eu post alguma coisa.

Eu preciso falar, agora. E trata-se de falar pra mim mesmo. Por mim mesmo. O último blog que criei foi pra dizer pra Nádia as coisas que ficavam intaladas, por algum motivo. Agora eu quero um espaço pra dizer pra mim mesmo as coisas que minha consciência evita.

Já a um mês retornamos da praia, eu, a Nádia, e os meus melhores amigos. Foram férias maravilhosas, que renovaram minha vontade de viver. Eu trouxe comigo, daquele lugar, uma lembrança, que tornou-se meu maior tesouro nos dias vindouros. Eu, em meio ao Oceano, vislumbrando uma Lótus feita de água, desabrochando eternamente, saudando o céu estrelado. Eu sentia, porém, um silêncio pernicioso vindo da Nádia. Era como se tivesse algo errado. Mas eu não podia suportar isso. Não queria acreditar nisso. Deveria estar tudo bem.

Ela tentou se matar, um dia após nosso retorno. E, dede então, vi tudo ruindo ao meu redor.

Isso silenciou minha alma por alguns dias. Não consegui nem ao menos gritar. Eu ria, feito um bobo. Agia como se nada tivese acontecido. Mas essa era uma verdade impossível de ser ignorada. Ela não estaria mais aqui. Estaria longe.

Foi então que me perdi. Não tinha mais as mesmas referências, que me permitiram construir uma vida mentalmente e emocionalmente estável. Eu perdi mais do que uma namorada nisso tudo. Perdi minha família, minha casa, minha melhor amiga. E passei perto de perder a minha vontade de continuar. Eu sei, isso soa dramático por demais. Mas é pra isso que estou aqui. Pra deixar as palavras dizerem por si.

Me vi sem refernências sólidas, e caí no desamparo. Eu tentei me agarrar ao que aparecia, mas parecia que nada era capaz de substituir aquilo que nós dois tinhamos construído. Era muita cumplicidade. Não! Não posso continuar sustentando tais mentiras! Que cumplicidade é essa? Eu nem ao menos percebi o que estava por vir. As vezes me pergunto o quanto eu conheço a Nádia de fato. Ela é pouco aberta. Pouco sincera. Ela se resguarda demais...

Sim, eu me sinto traído. Traído por não receber a mesma sinceridade que ofereci. Traído por um ato egoísta. Mas isso não foi capaz de matar o que sinto. Pelo menos não ainda. O problema, agora, é que eu começo a perder as esperanças que ela de fato retorne. A cada dia que passa seu retorno parece estar mais distante. Sim, eu sei que esse é um dos braços entrópicos da saudade.

Estavam sendo dias escuros. Bem, digo estavam porque agora eu acho que encontrei alguma coisa. Posso estar muito enganado. E, o pior, é que isso, que eu encontrei, é bem capaz de destruir toda esperaça de que as coisas voltem a ser como eram. É um risco pesado a correr. Mas, agora, olhando de fora, posso perceber que as coisas não estavam tão bem assim. Tinha muita coisa errada. Nossas mentes entorpecidas tinham deixado de buscar por melhoras, por crescimento. Nos contentamos com muito pouco. Mas só agora posso perceber isso.

Eu me lembrei. Não, me lembraram o que eu realmente queria. O que eu tinha postulado como objetivo de vida no momento que entendi do que ela se tratava. Estranho é pensar que isso, essa lembrança, veio da pessoa que mais me decepcionou nessa história toda. Justiça divina, ele ousou dizer... E essas foram as palavras mais egoístas que já escutei.

Mas, e eu odeio admitir isso, ele tem sido um professor. Desde os tempos de gnosis e Andressa. Desde que eu comecei a reconstruir a minha vida a cerca de 3 anos atrás. Acho que, justamente por ele ocupar um papel tão importante na minha dinâmica psíquica, é que tenho tanta dificuldade de aceitar algumas de suas falhas.

A vida como vale a pena ser vivida. Um edén ideológico. Mágica.

Era isso, desde o princípio. E isso morreu, quando estava no auge. Eu troquei a jornada de minha vida pelo conforto da cotidianeidade. Eu me tornei inaltêntico. Eram tantos projetos! Conspirávamos enquanto brincavamos de engenheiros da realidade. Iriamos curvar o Cosmos a nossa vontade. Mas não foi isso que aconteceu.

Eu deixei de acreditar. Foi isso que aconteceu.

"Tente meditar", ele disse. Eu escarniei no começo. Disse que esse conselho soava como "Vamos cheirar benzina". Mas, no final das contas, foi isso o que fiz. E eu voltei até aquele dia na praia. O dia em que vi a flor. O dia em que eu mergulhei para dentro de mim mesmo. Me lembrei da jornada que eu tinha feito, e de como a mágica voltou, ainda que por alguns isntantes, a fluir pelo meu corpo. E, no final, eu senti que era hora de voltar ao mundo. Eu senti que, naquela noite, o universo me desafiava. E eu aceitei o desafio.

Quando entendi do que se tratava eu fiquei bastante decepcionado. Uma mulher? Nonsense!
Eu passei os próximos dias efletindo um bocado. Quase abandonei o estágio, mas o bom senso foi retornando, com uma ajudinha de minha querida supervisora, a minha atual figura materna of choice. No final das contas as coisas ocmeçaram a melhorar. Eu ganhei meu próprio quarto. Vou comprar meu próprio PC dentre alguns dias. E, paralelo a isso, eu refletia. O que o cosmos queria dizer com aquele sinal?

Era difícil ignorar o que tinha acontecido. Mesmo porque ela não saiu da minha cabeça. Não, eu não estava apaixonado, ou qualquer coisa do tipo. Seria direto demais. Essas coisas operam num nível mais simbólico. Então do que se tratava? Eu não pude entender de imediato o que aquilo queira dizer. Mas eu precisava entender!

Me lembrei da campanha de Mago. De como as coisas aconteceram. De quando a Beatriz apareceu. E de como aquilo influenciou o meu despertar. Não era paixão ou amor. Tá, no final das contas se tornou isso. Mas era uma outra coisa. Era a sensação de que aquilo era diferente. De que aquilo não era simplesmente ignorável. A Beatriz fez o Erik perceber o quanto as coisas estavam erradas. De como o sonho tinha morrido muitos anos antes.

Eu voltei ao mundo, então, nesse fim de semana. Eu pretendia procurar por ela. Pretendia ver o que eu podia tirar dessa experiência. E, mais importante, queria entender o papel dela nesse momento. As coisas já se configuravam em sentido, ainda que simbólico demais. Mas tudo deveria ser feito lentamente. Passo a passo. Sem me precipitar. Afinal, eu tinha de entender, antes de agir. Antes de me decidir.

Maldita bebida! Não sei o quanto eu estraguei as coisas. Talvez muito, talvez pouco. Não o suficiente pra destruir o que já existia, mas mais do que necessário pra acabar com aquilo que eu tentava construir.

Eu preciso clarear o que quero dizer com isso tudo.

Nenhum comentário: